Sobre o andarilho

Barcelona

“Não sei qual a pergunta, mas viajar é a resposta”. Ainda tento lembrar onde li essa a frase pela primeira vez, mas a incorporei desde então. Sou um jornalista brasileiro, curioso, apaixonado pela diversidade do mundo. Para mim, viajar é um dos maiores prazeres da vida. Por isso, esforço-me para andar, andar. Este blog é a melhor maneira que encontrei para compartilhar minhas histórias de viagem, dar dicas sobre o que vi e vivi por aí, trocar experiências com outros viajantes. Em 37 anos, passei por 43 países, morei em cinco, e despretensiosamente quero incentivá-lo(a) a se mexer mais. Inspirá-lo(a) a ir e nunca mais voltar. Viajar, afinal, é um caminho sem volta.

Por que escrever um blog?

Em janeiro de 2004, embarquei para Puebla, cidade a uma hora da impressionante Cidade do México. Lá fui estudar seis meses de Jornalismo, e lá vivi o melhor ano da miva vida. Sair da zona de conforto — tive certeza tomando tequila –, sempre é bom, ainda mais quando é para fazer o que se ama: no meu caso, aventurar-se no mundo e conhecer alguns mais dos seus 7,8 bilhões de transeuntes. Foi alucinante. Eram tantas novas vivências, cenários, pessoas no meio do caminho, que passei a escrever rotineiramente meus “Diários do México” e os compartilhar com amigos por email — as redes sociais eram muito incipientes. As respostas animadas aos emails e os pedidos para que continuasse escrevendo me motivaram a seguir por linhas tortas — sou gauche na vida –, de maneira desorganizada e sem periodicidade.

Dezesseis anos e quatro países como casa depois — atualmente moro em Madri –, criei o Andar Andar com um simples desejo: motivar mais gente a ir. E se apaixonar pelo caminho.

A nostalgia de casa é um sentimento comum aos turistas durante uma viagem; eu, ao contrário, sofro de uma dor diferente: a nostalgia de estar fora. Sim, tenho saudade da minha querida família, dos meus amigos, da feijoada de domingo. Mas como deixar o mundo de lado e ficar num só lugar? Para mim, impossível.

Sempre gostei de viajar, mas me descobri nômade durante o intercâmbio. Entre as muitas opções na América Latina, havia escolhido o México porque queria entender melhor um “certo país do futuro”, sobre o qual pouco conhecia, mas me parecia fascinante. Acertei na escolha, e recomendo o México para qualquer tipo de viajante.

Embalado, segui para Cuba. Era um sonho. No país ainda comandado por Fidel Castro, estudei por três meses Cultura latinoamericana na Universidade de Havana. Assisti a um discurso inflamado do presidente, vi a estréia do filme Diários de Motocicleta escondido no Hotel Nacional, dancei salsa, tomei rum, tive minha bicicleta roubada e, principalmente conheci Olga, minha mãe cubana; Otto, o filho dela; e Jerônimo, o segundo marido (foto abaixo). Gente simples, como é obrigatório em Cuba, mas extremamente sofisticada no pensamento. Discordamos, concordamos, aprendemos juntos.

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Já estava há 10 meses fora de casa e arrumando as malas para voltar quando alguns colegas americanos que havia conhecido na universidade mexicana fizerem um convite irrecusável: “Vem pros EUA”. Cheguei a Seattle, a cidade sede da Microsoft e onde nasceu o Starbucks, no fim do Verão de 2004. Na cidade conhecida como uma das que mais chove ao ano mo mundo — vivi somente cinco dias ininterruptos de aguaceiro –, estudei cinco meses intensivos de inglês, fui pintor, voluntário na campanha do candidato democrata John Kerry — que perderia para George W Bush –, conheci e me aproximei de uma família judia e aprendi bastante sobre a religião. Era feliz e sabia.

De volta ao Brasil quase um ano e meio depois de partir, era tempo de voltar a rotina de estudos. A poucos semestres de me formar em Jornalismo, vi-me estagiando num jornal conhecido por seu tom sensacionalista. “Se espremer, sai sangue” diziam diziam os leitores da Folha de Pernambuco, que depois adotou outra postura editorial. Em seis meses, cobri de buracos a crimes passionais. Fiz ronda da madrugada, contei tiros em corpos de criminosos mortos. Uma escola o Jornalismo impresso. Ao mesmo tempo, cursava Direito Penal na Universidade Federal de Pernambuco, um uma ambiente completamente diferente do necrotério, muito mais tedioso. Formei-me jornalista, um ano depois bacharel em Direito. Para comemorar meu ingresso na Ordem dos Advogados do Brasil, dei-me um presente de luxo: desbravar a América Latina. No roteiro Peru (todo mundo tem que conhecer Machu Picchu!!!), Equador e Bolívia. Escreverei sobre esse roteiro aqui no blog.

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Recém-formado em duas carreiras, segui para São Paulo procurando emprego. Poucos dias depois, estava trabalhando de terno num espigão na Zona Oeste. Era assessor de imprensa de uma grande consultoria de negócios. Foram três anos frenéticos numa cidade parada. Resolvi mudar.

Havia conhecido Madri no inverno de 2011, e simplesmente me apaixonei pela cidade onde as pessoas vivem para “disfrutar”. A vida, a comida, os amigos, o trabalho. Os espanhóis têm um talento peculiar para balancear trabalho e diversão, e os madrilenhos parecem saber ainda melhor como aproveitar a vida. Deu vontade de morar lá.

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Como minha mãe em Madri (2013). Ela, óbvio, é a leitora mais assídua do blog

O plano foi posto em prática dois anos depois. Prestes a completar 30 anos, dei-me de presente um Masters em Desenho Estratégico e Criativo de Negócios no Instituto Europeo de Design, uma escola conhecida por formar grandes designers de moda e de produtos e que há pouco formava criativos de serviços e de negócios. Nunca fui tão feliz como em Madri, a cidade que considero a melhor do mundo e onde desejo passar mais alguns anos da vida. É 2020, e aqui estou. Mas ainda quero morar em Lisboa e em Roma.

 

 

Pílulas de mim

Em breve…