O comércio local agoniza com a pandemia em Madri, São Paulo ou Nova York. Enquanto isso, uma empresa triunfa como nunca antes. As encomendas com o logo risonho da Amazon são onipresentes nos carrinhos puxados por entregadores que perambulam por aqui. E as embalagens que entregam amontoam os cubos de lixo deixados nas ruas a cada dia depois das 19h. Não é impressão minha: “Amazon atinge vendas e lucros recordes no terceiro trimestre”. “Amazon obtém o maior lucro de sua história apesar do coronavírus”. “Barcelona estuda um ‘imposto da Amazon’ para gigantes do comércio eletrônico”. As notícias soam repetitivas em nos contar o sucesso da empresa de Jeff Bezos, ele mesmo o homem mais rico do mundo.
Ao mesmo tempo que aumenta seus zeros à direita, a Amazon desperta reações cidadãs. Aqui na Espanha, cada vez mais gente se conscientiza em apoio ao comércio local. São consumidores que ao verem o cenário de terra arrasada vão se dando conta que a competição, física ou virtual, já não é entre as duas lojas da esquina, mas entre elas e o site que vende de tudo, 24h por dia, e promete entregar o pedido na porta em poucas horas. E que, soubemos há poucos dias, “abusa ilegalmente de sua posição dominante como provedor de serviços de mercado na Alemanha e na França, usando dados confidenciais em grande escala para competir com varejistas menores. Agora é a vez da Amazon responder.”
Quem disse foi a vice-presidente da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, detalhando um pouco mais até onde chegam os tentáculos da Amazon. Se por um lado, a empresa é uma grande vitrine onde pequenos e médios vendedores independentes podem comercializar seus produto; ao mesmo tempo é um comerciante que usa essa mesma plataforma, competindo com os demais vendedores. E aí está o conflito. O jornal El País detalha: “como prestadora de serviços, a empresa com sede em Seattle tem acesso aos dados privados de negócios de seus vendedores, seu volume de visitas, vendas e remessas e até mesmo as reclamações que recebe de clientes.”
Vestager explicou que a pesquisa de serviços de concorrência mostra que todas essas informações “fluem diretamente para os sistemas automatizados” do negócio. E com todos esses dados é criado o algoritmo que permite calibrar suas ofertas de varejo ou “decisões estratégicas de negócios”. A Amazon estaria, por exemplo, aproveitando os dados de seus clientes para concentrar suas ofertas onde há vendas mais altas ou para ajustá-las dependendo do que seus concorrentes estão fazendo. Na comunicação de objeções enviada à Amazon, a Comissão Europeia determina que essas práticas permitem evitar os “riscos normais” da concorrência no varejo e aproveitar seu domínio de mercado.
Quem diria que você poderia contribuir com um mundo mais justo ao levantar da cadeira para fazer uma compra?