População do mundo deve atingir o auge em 2064, 9,7 bi; 1 de cada 3 no planeta será africano em 2100; na Espanha, em Portugal e na Itália haverá a metade de gente de hoje no final do século; Brasil terá em 2100 a mesma população de 2000
Quando Raul Seixas nasceu, há 10 mil anos atrás, éramos apenas um milhão no mundo. Em 1800, quando Napolelão dominava a Europa e a população de Londres ultrapassa 1 milhão de habitantes, já éramos um bilhão. Há 60 anos, em 1960, quando a FDA (equivalente à ANVISA nos Estados Unidos) aprovou a pílula anticoncepcional no país, éramos três bilhões. Em 2020, o ano em que uma nova pandemia já vitimou 577.954, já superamos 7,8 bilhões no planeta. Em 2050, nossos filhos e os filhos de nossos filhos viverão neste planeta azul junto a nove bilhões de pessoas. Mas quando a população do mundo se estabilizará e comecará a diminuir? Segundo um estudo recém-publicado pela prestigiosa revista científica inglesa Lancet, financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, o auge de gente ocupando o planeta será em 2064, quando seremos 9,732 bilhões.
A partir desse momento, diz o estudo, a humanidade reduzirá lentamente para 8,8 bi em 2100. O que provocará a queda? A educação das mulheres, que será mais difundida e precoce, segundo os cientistas do Instituto de Métricas e Avaliação Departamento de Saúde da Universidade de Washington (IHME) que propõem os números. “Nossas descobertas sugerem que as tendências continuadas na educação feminina e o acesso à contracepção acelerarão o declínio da fertilidade e o lento crescimento populacional”, diz o estudo. Mesmo em países como o Níger, onde as mulheres têm hoje em média 7 filhos, seria alcançada uma taxa de fecundidade semelhante à da França atual (1,8). A expectativa do estudo, diga-se, destoa muito da previsão das Nações Unidas: a de que haverá cerca de 11 bilhões de pessoas em 2100, dois bilhões a mais do que o novo cálculo propõe.
CCFl,c = β0 + βmnmnl,c + ns (edul,c) +ηl,c, (um dos cálculos publicados pelo novo estudo)
Os autores desta nova análise, aliás, reconhecem uma margem considerável de incerteza para a previões daqui a 80 anos, mas acreditam que o estudo publicado é melhor do que o que tínhamos até agora, feito pela ONU. Isso porque, segundo os cientistas responsáveis pela nova publicação, eles desenvolveram novos modelos de séries temporais com uma quantidade maior de dados sociodemográficos, que ainda acrescentam probabilidade de conflito, desastres naturais e crescimento econômico.
A diferença com os números da ONU, explicam, é porque estimam haverá uma redução drástica da taxa de fertilidade na África subsaariana, que se somará a uma rápida queda da população da Ásia e da Europa Central e Oriental. Para se ter uma ideia, segundo eles, as populações diminuirão pela metade em 23 países e territórios, incluindo a Espanha, que diminuirá de 46 a 23 milhões de habitantes no final deste século (haverá 33 milhões, de acordo com a ONU). Outros países que perderiam metade da população são Japão, Tailândia, Itália, Portugal e Coréia do Sul. Além disso, 34 outros países terão uma grande redução na população, incluindo a China, que dos atuais 1,4 bilhão de pessoas passaria a ter 732 milhões habitantes.
Segundo o estudo, nunca antes haverá mais brasileiros neste país, como dizia um ex-presidente, em 2043, quando seremos entre 235-249 milhões. Em 2100, a população haverá diminuído a cerca de 165 milhões, similar à do ano 2000.
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A África freará seu crescimento mais que o esperado pelas Nações Unidas, mas ainda assim triplicará sua população. Isso faz com que, entre outras coisas, a Nigéria se torne en 2100 uma potência global com quase 800 milhões de habitantes, apenas atrás da Índia (1 bilhão) e acima da China no pódio da população mundial. Nos dez primeiros dos países mais habitados do final do século, haverá cinco africanos (Nigéria, República Democrática do Congo, Etiópia, Egito e Tanzânia). Brasil, Bangladesh, Rússia e Japão perderiam assim espaço entre os mais populosos. A Indonésia e os Estados Unidos devem resistir na lista, embora o caso norte-americano dependa de manter ou não a política de imigração do século passado, e não a do governo de Donald Trump. “As políticas de imigração liberal nos Estados Unidos sofreram um revés político nos últimos anos, ameaçando seu potencial de manter o crescimento econômico e populacional”, dizia o estudo.
Segundo o artigo, os países têm quatro opções para lidar com o controle populacional. Eles podem tentar aumentar a taxa de fertilidade criando um ambiente propício para as mulheres terem filhos e seguirem suas carreiras; elas podem restringir o acesso das mulheres a serviços de saúde reprodutiva; eles podem aumentar a participação da força de trabalho em idades mais avançadas e promover a imigração.
“Para países de alta renda com fertilidade abaixo da taxa de reposição, as melhores soluções para manter os atuais níveis populacionais, crescimento econômico e segurança geopolítica são políticas abertas de imigração e políticas sociais que apoiam as famílias a que eles têm o número desejado de filhos ”, explica Christopher Murray, coordenador do estudo.
O futuro é o de um planeta extraordinariamente envelhecido em 2100, quando em torno de 2,3 bilhões de pessoas terão mais de 65 anos , em comparação com apenas 1,7 bilhão com menos de 20 anos de idade. Haverá o dobro de pessoas acima de 80 anos que abaixo de 5 anos (800 milhões vs. 400). A média de idade da população será de 43 anos, contra os 32 atuais.
Essa mudança brutal na pirâmide demográfica afetará as relações de poder entre os países e sua capacidade de manter a força de sua economia com uma força de trabalho cada vez menor (independentemente do que a robótica possa oferecer, que os autores do estudo não ousaram prever). Por exemplo, a força de trabalho da China passará de 950 milhões para cerca de 350 milhões e seu poder militar será seriamente diminuído com a perda de 65% dos jovens entre 20 e 24 anos. A China, aliás, deverá ser a maior economia do mundo em 2035.
O estudo, como dizia acima, se atreve a medir a influência da população no peso político e econômico dos países, prevendo que países como China e Estados Unidos permanecerão na liderança, acompanhados pela Índia, como os países com as maiores economias do planeta. A perda de habitantes fará com que o tamanho da economia de países como a Espanha sofra, passando de ser 13ª economia global em 2017 à 28ª no final do século, Itália (9 a 25), Brasil (9 a 20) 13) ou Coréia do Sul (de 14 a 20).