Bolsonaro roubou qualquer outro assunto possível sobre o Brasil
Presidente aparece diariamante na imprensa daqui e deixa espanhóis boqueabertos; hoje ele foi assunto de uma longa reportagem do maior jornal de Barcelona
Num país apaixonado por festa e futebol, como é a Espanha, normal que numa primeira conversa com um brasileiro os assuntos sejam… festa e futebol. Mas Neymar, Rio de Janeiro, caipirinha, Carnaval, Anitta, Ronaldinho viraram detonadores de conversa secundários de uns tempos pra cá. “O que está acontecendo com o Brasil?” é, sem dúvida, o que primeiro desperta o interesse para qualquer civilizado daqui, independentemente do seus viés político. Ou, em vez da pergunta, a conversa pode começar com um análise procupada sobre como o Brasil sofrerá com a primeira onda da pandemia do novo coronavírus sob o desmando de Bolsonaro.
Hoje foi a vez do La Vanguardia, o maior normal da Catalunha (cuja capital é Barcelona), e um dos mais influentes do país, publicar uma longa reportagem sobre o Goberno Bolsonaro em tempos de pandemia. O título: “Bolsonaro, todo por los ‘filhos’.
Compartilho alguns trechos literais que dão o tom da reportagem:
“Enquanto o Brasil passa por uma tripla crise muito séria – saúde, econômica e política – a prioridade do presidente é única: proteger a família”.
“Eles (brasileiros) já vendem máscaras em vez de tangas nas barracas de praia em frente ao condomínio da Barra da Tijuca onde a família Bolsonaro se reúne para planejar os delirantes contra-ataques nas redes sociais”.
“Quase todos os domingos são convocadas manifestações – às vezes com a presença do presidente – que protestam em nome do povo brasileiro contra todas as instituições do estado de direito precário, exceto as forças armadas”.
“Outros temem um possível golpe militar em defesa de Bolsonaro. O alto comando das forças armadas reiterou seu apoio à democracia. Mas em um governo que inclui sete oficiais militares seniores, incluindo o vice-presidente Hamilton Mourão, não está claro se eles se referem ao ex-capitão Bolsonaro ou ao Estado de direito pela democracia.
“A pandemia está exacerbando profundas fissuras sociais no país mais intimamente identificado do mundo com a extrema desigualdade, já exacerbada pelos cortes liderados pelo Chicago Boy Paulo Guedes, que dedicou apenas 1,7% do PIB a uma resposta anti-crise”.
“O novo ministro da saúde já confirmou ler a mesma cartilha de Guedes nesta semana, recusando-se a mobilizar o setor de saúde privado, apesar do fato de os hospitais públicos já terem 90% da capacidade. Seria prejudicial para a imagem, disse. E completou: “Além da saúde, é preciso levar em consideração como os estrangeiros vão olhar o Brasil”, em uma aparente referência aos mercados internacionais, citando a Espanha como um exemplo do perigo de “nacionalização”. Não parece ser o discurso de um presidente que se destaca como o salvador do povo brasileiro. Mas Bolsonaro está mais preocupado mesmo em salvar os seus filhos”.
Leia aqui a íntegra da reportagem do La Vanguardia.