Aventurar-se em outro lugar do mundo, recomeçar a vida longe de casa: você já pensou em morar fora?
Se sim, saiba que você faz parte de um movimento global. Segundo a ONU, mais e mais gente tem feito o mesmo — e posto o plano em prática. Em 2015, de acordo com a entidade, o número de migrantes internacionais alcançou a marca de 244 milhões – um aumento de 41% em relação ao ano 2000. Hoje três em cada cem habitantes do planeta estão vivendo num país diferente de onde nasceram.
Eu sou um deles. Em Madri desde 2013 — com um ano de volta ao Brasil no meio –, comecei a vida andarilha bem antes, em 2004. Primeiro estive em Puebla, no México, onde por sete meses de intercâmbio estudei jornalismo. Depois, em Cuba, no mesmo ano, por quase 90 dias frequentei a Universidade de Havana, onde aprendi História e tradições latinoamericanas de acordo com o ponto de vista de um país fechado e soclialista. Em junho de 2008, uma viagem de família a Nova York, que deveria durar dez dias, rendeu oito meses. De turista, tornei-me bartender nos Hamptons, uma zona de endinheirados a quase três horas de Manhattan. Prestes a completar 30 anos, em fevereiro de 2013, vim a Madri cursar um Masters em Desenho de Negócios. Quero ficar aqui por muito tempo.
Para mim, partir nunca foi um grande problema. Se há um lado ruim de deixar qualquer lugar onde se constroem laços afetivos e há controle do dia a dia, há outro ainda melhor de se aventurar e desafiar o desconhecido. Acredite, novas experiências sempre fazem bem, mesmo que você esteja extremamente satisfeito no seu casulo.
É claro que a mudança também trará percalços. Haverá momentos de medo, frustação, saudade, cansaço, desânimo, vontade de fazer compras no mercadinho do bairro ou de comer brigadeiro — iguaria que só existe no Brasil. O bom é que pequenas e grandes pedras no caminho serão superadas com maravilhamento diante de novas imagens, cescimento pessoal e, principalmente, consciência de que a realidade é infinitamente maior que a de costume.
Conheço gente que se jogou no mundo com prazo limitado e passaou a chamar o lugar provisório de casa. Também, os que não se adaptaram e voltaram antes do planejado. O legal é que, para um ou outro grupo, a aventura quase sempre valeu a pena.
Neste post, compartilho cinco motivos pelos quais acho que ir sempre é uma boa.
1- Morar fora faz você sair da zona de conforto
A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim… Essa música, clássico de Ronnie Von, certamente não fará parte da sua vida quando você chegar a um novo destino. Nesse lugar, tudo será novo: pessoas, hábitos, cultura, comida, ruas por onde andará. Por um tempo, é quase certo, você se sentirá como um turista: curioso, mas perdido. Com o passar dos meses, a frustação por não saber onde pagar as contas, onde fazer supermercado, para quem ligar para sair, qual o melhor programa de tv aos domingos, além do muito provável estranhamento inicial com a nova língua –entre outras várias banalidades da rotina que qualquer local– ficarão para trás. Você se dará conta que é capaz de encontrar novos caminhos e estará maravilhado com as soluções que foi capaz de encontrar. E a valorizar mais algumas habilidades, como a paciência.
2- Recomeçar aguça sua sociabilidade
Quando você se muda, é possível que se sinta sozinho por algum tempo. Além de exercitar a paciência, você terá que desenvolver uma característicca inerente a todos nós: a sociabilidade. Pouco a pouco, começará a manter conversações com pessoas que sente terem perfil similar ao seu. Algumas perderá de vista no meio do caminho, outras inesperadas aparecerão de repente. Com algumas se apagerá com se fossem velhos amigos. É verdade que, em tempos nos quais todo mundo parece apressado, em qualquer lugar do planeta, construir amizades é custoso. O lado bom é que, com mais tempo sozinho, você se conhecerá melhor e se tornará uma pessoa mais independente.
3- Você vai perceber que o diferente é normal
Saímos de casa com uma bagagem de valores e costumes trazidos de casa, da escola, da rua. Quando chegamos ao destino, rapidamente nos damos conta que nenhum desses maneirismos é incontestável. De hábitos de higiene, a como se portar num jantar, ou a que horas sair para dançar: as diferenças aparecem pouco a pouco e são muitas. Com o tempo, você percebe que o somatório desses pequenos costumes diferentes constroem o quebra-cabeça da identidade de um povo.
Na Espanha — onde moro –, por exemplo, os homens se cumprimentam com dois beijos na buchecha, os casados usam aliança na mão direita, o sobrenome paterno vem antes do da mãe, os filmes estrangeiros no cinema são quase sempre dublados, o almoço geralmente é servido entre 14h e 15h, as boates começam a encher depois das 2h da manhã, o mês de agosto é de férias integrais para grande parte do comércio, o verbo mais ouvido na vida é disfrutar (aproveitar). Sabem aproveitar a vida, esses espanhóis. O legal é que descobrimos o quão adaptáveis nós somos a tantas pequenas mudanças.
4- Você vai relativizar a importância de coisas
Não é preciso morar fora para valorizarmos mais experiências que coisas. Mas o fato de começar uma vida nova em um lugar desconhecido nos faz refletir mais sobre o tema. Naturalmente, “o que tenho na vida” passar a dar espaço a “o que fui capaz de ver na vida”. Ter um carro pode passar de essencial a impensável, como no meu caso vivendo em Madri. Menos coisas, menos preocupação e mais liberdade e tempo para desbravar o novo lugar, as pessoas que aparecerão no caminho, etc.
5- Você será melhor do que antes
Começar a vida em outro lugar obviamente não é a solução para os seus problemas. Para muita gente, principalmente para os mais apegados a coisas e pessoas, pode significar simplesmente um baque na vida. O fato é que se você se considera aberto ao mundo e às suas diferenças, certamente vai aproveitar uma nova cultura, um novo estilo de vida, testará sua capacidade de se adaptar e se inserir a uma nova realidade e viverá momentos inesquecíveis. Gostando ou não de sua nova morada, o fato é crescerá, aprenderá com as diferenças, e saberá que o mundo vai muito além do que havia visto, vivido e aprendido. Você verá que é capaz de fazer mudar, tentar, cair, levantar e seguir em frente. E principalmente de procurar o lugar com que mais se identifique e que o ajude a viver o máximo de momentos felizes possíveis.
Está pensando em se jogar no mundo ou já está longe de casa? Conte-nos como foi ou tem sido a sua experiência.
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