Pelo que tudo indica, nesta vida, nós, simples mortais, não teremos oportunidade de subir num foguete e dar uma volta por aí, como parece poderão fazer alguns afortundados em um futuro próximo.
Favas contadas, apressei-me em tirar o celular do bolso e, como faziam todos meus colegas de voo, comecei a filmar o que me parecia uma nave espacial deitada, a qual surpreendentemente teria a oportunidade de subir. Era o A350 XWB (“eXtra Wide Body”, ou corpo extra-largo) da TAM que me levaria, e a mais de 350 pessoas, de São Paulo a Madri.
A filmagem foi possível porque chegamos ao avião, vindos do novo Terminal 3 de Guarulhos, trazidos por ônibus, e não por pontes de embarque. O aeroporto de Cumbica, aliás, merece um parênteses: de vergonhoso, entupido, antiquado e escuro há até dia desses, moderniza-se a cada dia. Segue sendo um lugar sem identidade e estressante, como qualquer aeroporto, mas ao menos decente.
De volta ao avião gigante, era mesmo sedutor. Tinha a impovável capacidade, em se tratando de latas aéreas, de nos convidar a entrar. Perto do bico afilado, lia-se que era o primeiro modelo a voar nas Américas, um detalhe que nos fazia sentir também pioneiros, estreando a máquina.
Ainda fora, notava-se a turbina gigantesca bem mais cerca da escada de acesso que o normal, e as asas envergadas mais para trás. Estava claro que o céu havia ganhado um novo design.
Subimos. Entramos sem a obrigação de passar pela classe executiva para chegar à classe turística, um trajeto que, quando existe, gera ansiedade por parte dos menos privilegiados.
O que chamou atenção logo na entrada foi a largura do interior, a maior que já vi numa lata metálica. Em voos de longa distância, é comum que os aviões tenham configuração 2-4-2 assentos. As fileiras do A350 têm nove, em configuração 3-3-3. Ao todo são 348 lugares, sendo 318 na econômica.
A altura do teto também é muito maior do que a que estamos aocstumados, principalmente nos fundos. É, sem dúvida, uma ajuda aos claustrofóbicos. O teto mais alto também se reflete no espaço do bagageiro, o que nos livra de mais um estresse: passageiros se estapeando entre si e com a tripulação em busca de lugar para suas gigantescas bagagens de mão.
Sentei-me aos fundos, no corredor, e achei o espaço do assento ok, dentro da média. O assento, aliás, é super fino, mas a espuma confortável. Para nos ajudar a uma jornada mais cômoda, o apoio de pé flexível encosto de cabeça móvel –para cima e para baixo–, que permitia se ajustarem as abas laterais, moldando-se à cabeça, faziam diferença.
Sintos afivelados, taxiamos rapidamente, sem filas de tráfego aéreo, uma rotina em Guarulhos.
Ainda em solo, notava-se uma iluminação diferente da opaca luz usual. Leds que mudavam de cores, de acordo com princípios da cromoterapia, cumpriam bem sua função de passar calma, e mudaram ao longo do voo.
O gigante taxiou elegantemente e se sustentou no ar de forma increvelmente silenciosa. O pouco ruído na decolagem, e depois no pouso, impressionaram.
Cruzávamos o Atlântico madrugada adentro, mas eu dormi logo depois do jantar. Havia pedido comida leve, e sugiro sempre que você escolha, com antecedência –no cado da Latam, por telefone– um prato especial. Além de chegar antes que a comida dos outros passageiros, sempre parece mais fresca e saborosa.
Sono ligeiro, nem deu tempo de aproveitar a tv de 9 polegadas a minha frente, que somente foi útil para me avisar que faltavam 21 minutos para aterrissarmos em Madri. Sentia-me descansado, e li depois que a pressão do ar dentro da cabine do jato simula a altitude de 6.000 pés (1.800 metros), quando o normal são 8.000 pés (2.400 metros). A mudança serve para tornar a viagem menos cansativa e o impacto do jet-lag menor.
Também li depois que o gigante de 73 metros de comprimento e 17 metros de altura –o equivalente a um prédio de seis andares– é campeão em ecomomia de combustível e de manutenção.
Técnica à parte, aterrissagem macia, não chegamos à Lua, mas bem que nossa enterprise nos trouxe para um lugar que, para mim, é do outro mundo.
Estava em Madri!
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