Nomes de lugares atiçam a curiosidade. Também dão pistas para entender como cada espaço se tornou o que é.
Na América Latina conquistada por espanhóis e por portugueses, os nomes de muitas capitais são uma referência a santos e santas. Uma clara demonstração de como a Igreja Católica dava as cartas na Península Ibérica a esta altura — hoje é quase impensável que o nome de uma nova cidade latino-americana tenha influência católica.
Compartilhei em um post recente o porquê dos nome Caracas, terra por onde andei recentemente. Como também tratei sobre nossa identidade latino-americana há pouco, em seguida conto a origem nome de algumas das principais capitais desta parte do continente.
Assunção
O forte espanhol que originou foi erguido em 1537, obra de uma aliança entre os espanhóis e os índios guaranis, que moravam às margens do rio Paraguai. Em 1541, fundou-se oficialmente “La Muy Noble y Leal Ciudad de Nuestra Señora Santa María de la Asunción”.
A Assunção é uma referência ao dogma da subida ao céu do corpo de Maria ao final de sua vida terreste. Assunção é conhecida como a “Mãe das Cidades” porque de lá partiram as expedições que fundariam Buenos Aires e outras cidades do Sul do continente.
Brasília
É simplesmente Brasil em latim. O nome foi sugerido por José Bonifácio de Andrada e Silva para a criação da nova capital no centro do território, ainda na década de 1820. A cidade começou a ser planejada e desenvolvida em 1956 por Lúcio Costa e pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Brasília tornou-se formalmente a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro.
Bogotá
Diga Bo-go-tá e é fácil se sentir numa tribo. A origem do nome da capital da Colômbia é mesmo indígena. Bogotá não era a primeira opção espanhola para o nome do lugar, é bom dizer. De cara, a cidade nascente foi Nossa Senhora da Esperança. Um ano depois, na fundação jurídiaca, em 1539, virou Santa Fé de Bogotá. O segundo nome completo não durou muito, já que se confundia com outra Santa Fé, a Argentina. Depois de duas tentativas de nomes que remetiam ao catolicismo, tornou-se apenas Bogotá, uma adaptação da palavra indígena “Bacatá”, que significa “território fronteiriço”. Bacatá era a capital do confederação indígena muísca, que vivia soizinha na região até a chagada dos conquistadores.
Buenos Aires
Não há notícia de que o homem que deu o nome a Buenos Aires, Pedro de Mendoza, fosse um ambientalista. Embora o ar da cidade seja considerado bom até hoje, Buenos Aires não tem nada a ver com o verde, mas com o vermelho do sangue da conquista. Em 1536, o espanhol nomeou o lugar de “Real de Nuestra Señora Santa María del Buen Ayre” em homenagem à virgem de Bonaira, venerada pelos navegantes que circulavam pelo que era um forte de guerra. De Buen Ayre chegou-se a Buenos Aires.
Cidade do México
O que hoje é uma das maiores cidades do mundo foi um dia um império. Os mexicas — chamados por nós aztecas — fundaram sua capital no meio do “Anahuac”, o Vale do México. Por muito tempo, acreditou-se que México significava “umbigo da lua” em referência ao centro do vale, mas a teoria hoje mais aceita é que o nome venha de Mexihli, outro nome para Huitzilopochtli — o equivalente azteca ao deus Marte dos romanos.
Cidade do Panamá
O Panamá tem chamado cada vez mais a atenção dos turistas por ser uma terra linda, onde há qualidade de vida para os moradores e segurança para os que o visitam. Tenho ouvido inclusive algumas reportagens se referir à capital desse país da América Central como “Nova Miami” — o que pode ser bom ou ruim dependendo da perspectiva.
O nome do país e da capital fazem parte do dialeto cueva, tribo que habitava o Panamá e foi dizimiado pela conquista espanhola em 1519. Ao que tudo indica, é uma espanholização de uma expressão que significaria “abundância de peixes e de borboletas”.
La Paz
Como a capital argentina, o nome La Paz também é uma homenagem ao catolicismo. “Nuestra Señora de La Paz” foi o nome dado pelo fundador Alonso de Mendoza em 1548. Com o tempo, La Paz prevaleceu.
Lima
Os espanhóis fundaram Lima em 1535 e a chamaram de “Cidade dos Reis”, pela proximidade da fundação com o dia dos Reis Magos — por esse motivo o escudo da cidade tem três coroas. Para os incas, a região da cidade era conhecida como Limaq — a pronúncia quechua (língua inca) para o rio Rímac, que banha a cidade –, e esse foi o nome que prevaleceu. Rímac significa “hablador” (falante), e tem a ver com o ruído que o rio fazia ao sua águas se chocarem com as pedras no fundo em época de cheias.
Montevidéu
Há pelo menos duas versões sobre a origem do nome. A primeira, baseada no diário de navegação da expedição de Fernão de Magalhães, de 1520, registra um monte que se assemelhava a um chapéu.
A outra versão, não documentada, é a mais difundida. Diz que uma expedição portuguesa navegando pelo Rio da Prata, de leste a oeste — do Oceano Atlântico para o continente –, avistou o 6º monte na região em que hoje se situa a capital uruguaia. Daí, o registro de “Monte VI de Este a Oeste”, que de forma abreviada se escreve “Monte VI-D-E-O”.
Quito
A tribo quitu ocupava o que hoje é a capital do meio do mundo desde mais ou menos 500 d.C. Conquistados depois pelos quechua, os quitu desapareceram, e até hoje não há certeza sobre o significado do nome. Alguns filólogos acreditam que a palavra venha da língua ancestral cha’fiki, e que significa “terra na metade do mundo”. Para mim, imaginar que esse povo pudesse ter noção de habitar no meio do planeta é um ótimo motivo para não duvidar da capacidade humana.
Santiago
Com Santiago, prevaleceu outra homenagem à igreja. Fundada em 1541 por um espanhol, o pouco criativo — ou muito vaidoso — Pedro de Valdivia, foi chamada de “Santiago de Nova Extremadura”. Santiago era uma reverência ao apóstolo Santiago, o padroeiro da Espanha; Nova Extremadura, uma homenagem à terra natal do conquistador.
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