Viajar por conta própria ou por agência? Essa é talvez a segunda pergunta — a primeira costuma ser para onde ir — que muita gente faz quando começa a planejar uma viagem. Na minha opinião, a resposta é: depende.
Eu particularmente tive poucas experiências com agências, as quais recorro em situações específicas. Mas sou apenas mais um dos vários perfis de viajantes que existem.
Nesse post, que reflete puramente meu sentimento — portanto não traz regras —, compartilho algumas diferenças entre os dois tipos de viagem, o melhor e o pior entre as duas escolhas. Como tenho pouca experiência com agências, a opinião de vocês, viajantes, é preciosa para melhorar o conteúdo e ajudar mais gente a tomar uma decisão.
Perfil do viajante
O perfil tem a ver com o objetivo da viagem: hora de descansar e prezar por comodidade, sem muitas surpresas; ou de se atirar no desconhecido e literalmente abraçar o mundo? O objetivo mescla personalidade do viajante e momento da vida de cada um. A situação política e social do destino também pode influenciar em nossa decisão.
É mais fácil, por exemplo, para alguém com 20 anos planejar um mochilão e se atirar na Europa de forma independente do que um casal com um filho recém-nascido no colo, para quem facilidade e conforto devem ter mais peso. Um grupo de idosos geralmente viaja pensando mais em conviver do que para “ter trabalho” procurando o trem que o levará a outra cidade. Em uma viagem para um país recém-saído de uma guerra, talvez seja melhor seguir um roteiro estabelecido a arriscar a vida em lugares ainda instáveis.
Para mim, somente uma regra é clara: viajantes gostam de serem surpreendidos ao longo caminho, portanto a independência; turistas se encantam com brochuras que apresentam o máximo de detalhes sobre o que virá pela frente, por isso em geral preferem ir com agências.
Veja mais: Aprende-se a viajar? As diferenças entre turistas e viajantes
Comodidade e conforto
Quando estive na Índia, entrei numa agência de turismo para comprar um pacote de duas semanas que incluía várias viagens de trem, hospedagens e alguns passeios. Era infinitamente mais cômodo que tentar entender o sistema de transporte do país e todas as conexões possíveis por minha conta — indianos estão no meu pódio como maiores enroladores de turistas do mundo –, e foi também mais barato que se houvesse optado ir por conta própria, mas não foi uma viagem confortável. Paguei barato pela facilidade e pela economia de tempo de ter em mãos envelopes que me permitiriam entrar em quase uma dezena de trens e em hotéis, mas no preço não estava incluído viajar em primeira classe de vagões nem ficar em lugares estrelados — os meus estavam no limite mínimo de decência.
Resumindo: o importante ao fechar com uma agência é saber exatamente o que se está comprando para adequar preço e expectativa. Uma regra é clara: não há almoço de graça, portanto desconfie de muito mimo a pouco preço. Há, claro, agências que conseguem entregar mais cobrando menos, e são dessas que gostamos.
Lembre-se que viajar com agências é seguir um roteiro pré-estabelecido, o que inclui horários e locais a serem visitados. Talvez você não curta a idéia de acordar cedo todos os dias, ou queria ficar mais tempo num lugar apaixonante e não voltar para o ônibus ouvindo comentários de uma colega resmungão do grupo. Será que escolheria o restaurante para onde vai ser levado? Tudo isso entra na conta relativa da comodidade.
Segurança
É difícil garantir que viajar de uma ou de outra maneira é mais seguro. Caso tenha comprado o serviço de uma agência séria e com experiência no destino, é razoável acreditar que o serviço contratado prezará por minimizar seus riscos. Por exemplo: uma agência que opera em Alagoas sabe que marcar viagens de ônibus durante a madrugada é um grande risco, já que assaltos são comuns em várias rodovias do estado. Ou ainda outra especialista no Rio de Janeiro deve estar informada de furtos em tal ou qual hotel. É claro que esse tipo de informação de risco geralmente pode ser encontrada em fóruns de viagem, como o TripAdvisor, caso o viajante independente atente para isso.
Mais: Gente reunida afasta bandidos de cometerem crimes violentos, como se aproximar para roubar uma bolsa numa rua escura a caminho do hotel. Por outro lado, viajar em grupo nos deixa mais vulneráveis aos olhos de criminosos que querem furtar (quando temos um objeto subtraído sem perceber), atentos à desatenção dos turistas. Estando sozinho é mais fácil passar despercebido.
Preço
Há viagens que saem mais baratas compradas com agência do que indo por conta própria, mas o contrário também é verdadeiro. A lógica é simples: uma agência pode conseguir melhores preços porque trabalha com quantidade de vendas e tem relacionamento com companhias aéreas e hotéis, mas também pode cobrar mais caro por oferecer comodidade aos seus clientes, entre as quais manter uma estrutura de vendas. Uma dica para ajudar na decisão é cotar exatamente o que é oferecido pela agência com o preço se comprado de forma independente.
Também é bom lembrar que é possível economizar realizando parte da viagem com agências (comprar passagens, por exemplo) e outra de maneira independente.
Experiência e aprendizado
A rigidez de uma viagem agenciada — como horários de chegada e de partida e escolha pré-determinada de atrações — atrapalha no entendimento do destino caso o viajante seja inquieto por natureza. Afinal de contas, cada pessoa tem um ritmo diferente de absorção do que é visto e do que pode ser lido. Também é comum sermos surpreendidos por coisas no caminho das quais não tínhamos idéia da existência nem estão em nosso roteiro original. Pode ser um banho de realidade local, um evento inesperado, um beco escuro onde há uma lojinha charmosa. É o bom e saudável espanto com o desconhecido.
Mas também não podemos menosprezar o trabalho de alguns guias, que vai muito além de um falatório superficial de que pouco lembramos depois do passeio. Há guias capazes de dar contexto, contar a história nos apresentando pessoas, humanizar a narrativa de uma cidade. Eu, mesmo sozinho, procuro nas cidades free tours andantes. O conceito é simples: excursões lideradas por locais que nos contam sobre suas cidades de diferentes perspectivas: histórica, cultural, política etc. É uma experiência riquíssima.
Se é verdade que ir por conta própria dá mais independência e flexibilidade, também é fato que não é garantia de maior mergulho na cultura local. Pode-se ir sem interesse e sem curiosidade, ou mesmo com os dois, mas sem a possibilidade de se comunicar com locais em qualquer idioma ou sem ter consigo um guia que ajude a explicar o que se vê em volta. Ou seja: voltar para casa conseguindo dizer pouco mais do que “muito bonito”, “muito organizado”, sem muito entendimento do que é aquele lugar no mundo. Eu volto satisfeito quando acredito ter feito parte do destino por alguns dias, aproximando-me do cotidiano local e captando a alma dos seus moradores.
Ou seja…
Não há regra, embora para mim a prioridade sempre será viajar por conta própria e ao meu tempo. Ao notar ser muito complicado por questões como total falta de entendimento da dinâmica local — o que pode me custar dias para realizar atividades que me tomariam horas se pedisse o auxílio profissional das agências –, optarei por agências. De uma maneira ou de outra, a sugestão é mergulhar de corpo e alma no destino. Afinal, umas das coisas mais legais de uma viagem é se reconhecer de um país por meio do que é um país estrangeiro e se reconhecer com único traduzindo o comportamento das pessoas que encontra no meio do caminho.
E você, o que acha? Gostaria muito de saber sua opinião. Para mim, este espaço nada mais é que um bate-papo informal para nos ajudar a andar mais e melhor.