Como escrever sobre viagens de ócio, ou seja, sobre a liberdade de ir e vir por prazer — motivo da existência deste blog — depois de ver o vídeo abaixo. Em 3min e 37s, crianças sírias contam como a guerra tem destruído suas vidas, agora ainda mais complicadas depois que a Europa fechou a porta aos “turistas acidentais”, cuja única diversão do momento é sobreviver.
Como muito se sabe, e pouco se faz, há cinco anos a Síria vive numa guerra que se aprofunda a cada dia, empurrando que tem força para sobreviver para as portas da Europa. O problema é que os refugiados não têm idéia como serão recebidos. A União Européia, que há até pouco tempo parecia sensível à situação limite dos que chegavam, cada vez mais fecha as portas aos migrantes, sobrando confronto, tiros, pedras e pânico.
Dada a situação cada dia mais trágica, penso na total injustiça do mundo. De um lado os que têm a sorte de nascerem num país rico e estável, para quem o único incômodo de cruzar uma fronteira é a demora fila de imigração — que inclusive privilegia viajantes de países endinheirados chegando a países endinheirados.
De outro, os que, indocumentados, viajam para sobreviver, e são barrados aonde chegam. Primeiro penam para chegar a um lugar seguro. Depois, para recomeçar a vida.
A liberdade de ir e vir é uma total loteria, e quem tem sorte não quer dividir o prêmio, ou, no caso, o espaço da sua sorte. Os mais sortudos, por outro lado, gastam trilhões longe de casa e são cada vez mais paparicados pela Indústria do Turismo — cada vez mais representativa na economia global e vista como solução para muitos países.
Os azarados, além de conviverem com a pobreza do lugar onde casualmente nasceram, ainda têm que encarar bombas caírem sobre suas cabeças e, desesperados, dependerem da política da hora para serem acolhidos em outro lugar.
O mundo acostuma-se a se chocar por apenas algumas horas com cenas como as de abaixo, e não há sinais de melhora. Inacreditável.