A foto que roda a Espanha emociona o país
Durante muitos anos, a Espanha foi o país com mais bares per capta do mundo. Em 2016, a consultoria Nielsen contabilizou 260.000 deles, um para 175 habitantes. Para ser ter uma ideia do que isso significa, basta dizer que havia aqui mais locais que nos Estados Unidos, um país com uma população seis vezes maior, e mais rica.
Nada resume melhor a sociabilidade espanhola que os bares. Segundo a melhor definição que escutei por aqui, “Um bar é um ponto intermediário entre sua casa, a casa de outra pessoa e o local de trabalho, onde você para porque não aguenta ficar muito tempo em nenhum dos outros lugares. Você precisa ver rostos, ouvir outros ruídos, mudar de cena, mesmo que por cinco minutos; tudo isso produz um alívio tão momentâneo quanto instantâneo”. Se os motivos pelos pelos quais uma pessoa pára em um bar, em qualquer lugar do mundo, são muitos, resumidos nas ideias de busca e fuga, nestas terras ibéricas eles são a pedra angular do sistema social.
Na Espanha profunda, não há povoado sem igreja, prefeitura e bar. Na Espanha cosmopolita de Madri, Barcelona ou Bilbao, os garçons –camareros– sabem o nome do clientes do bairro pelo nome. Sim, do bairro, porque todos os vizinhos têm um, ou alguns, bar perto de casa de referência. No bar avistam-se crianças brincando até tarde. No bar, deixam-se encomendas para serem entregues aos clientes. No bar, os espanhóis resolvem problemas e celebram juntos. Juntos, sempre. Os espanhóis são extremamente gente-dependentes.
Aí veio a pandemia. Só aqui, a covid-19 já interrompeu a vida de quase 62.000 pessoas (34.210 segundo os múmeros oficiais). Como em qualquer lugar do mundo, o vírus trouxe medo e sensação de ano estranho; perdido para muitos. Além do inestimável dano para milhares de famílias e amigos dos que se foram, a pandemia também golpeia a economia e cria um cenário arrasador de placas de aluga-se que se multiplicam tão rapidamente quanto o vírus. A foto que abre este post ilustra bem essa desolação. Obrigados a se adaptarem a normas que mudam abrutamente, tentando conter o avanço do vírus, bares e restaurantes fecham as portas para já não abri-las.
El Bodegón Azoque, onde a foto foi tirada, é um restaurante localizado no centro de Zaragoza que fechará –de momento não para sempre– após as últimas restrições publicadas pelo Governo de Aragón. O presidente da Comunidade (equivalente aos estados no Brasil), Javier Lambán, anunciou nesta segunda-feira novas medidas para tentar conter a propagação do vírus na região nesta segunda onda. A entrada em vigor do alerta 3 obriga o fechamento dos bares às 22h e proíbe o consumo dentro de bares e restaurantes. Nos terraços, é permitido 50% da capacidade. Com essas restrições, o dono do Azoque diz que seu negócio é inviável.
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Que o Bodegón Azoque resista será um alívio para os clientes do local que leva décadas aberto. Enquanto isso, notícias de lugares míticos do país que não resistiram ao vírus se tornam cada vez mais comuns e causam danos afetivos irreparáveis. Acabar com os bares e restaurantes da Espanha é arrancar uma parte do coração do país.
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